Centro de Aconselhamento Psicológico e Pedagógico n. 19, Varsóvia

A pandemia de Covid-19, que nos manteve em casa por mais de dois anos, teve um impacto na saúde de todos. Quando as coisas iam voltando ao normal, as crianças tiveram a maior dificuldade em se adaptar ao ambiente pré-pandemia. Para elas, havia muito ruído! Os alunos se desacostumaram com o ruído do cotidiano escolar e se adequar a esse dia a dia foi mais difícil do que os especialistas tinham previsto. O problema do ruído e de não conseguir lidar com ele pode ter um grave impacto no desenvolvimento auditivo infantil, a menos que prestemos atenção na acústica das salas destas crianças.

Em centros psicológicos e pedagógicos, os horários de consulta para especialistas já estavam lotados antes até do lockdown. Se os pais percebessem qualquer coisa fora do normal no aprendizado ou comportamento de seus filhos, eles seriam trazidos aqui. Os casos mais comuns consistiam geralmente de dislexia, diversos tipos de deficiências no desenvolvimento, e também casos de QI alto, que muitas vezes surge de forma bastante atípica.

Após o problema ter sido identificado, a equipe multidisciplinar do centro de aconselhamento envia uma recomendação de que é necessário uma educação especial, ou um especialista prescreve suporte psicológico/de aprendizado na creche ou escola da criança. Após um intervalo de dois anos e um período onde o aprendizado foi feito no silêncio de casa, muito havia mudado. Os centros de aconselhamento descobriram um incrível aumento no número de crianças com hipersensibilidade auditiva.

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Crianças que estudaram remotamente estão agora sofrendo e mais sensíveis ao ruído.

Ewa Rycombel, terapeuta de fala

“O longo período de isolamento fez com que as crianças tivessem uma menor tolerância sonora,” disse Ewa Rycombel, uma terapeuta de fala no centro de aconselhamento psicológico e pedagógico n.19 (PPP19), localizado na Rua Lokajskiego, em Varsóvia.

“Alguns deles cobrem as orelhas de tanta dor, outros ficam excessivamente animados. Estes tipos de comportamentos determinam a resposta dos especialistas visto que a hipersensibilidade auditiva é um dos oito sintomas do Transtorno do Processamento Auditivo (TPA). As crianças que estudaram remotamente agora estão sofrendo e mais sensíveis ao ruído. O retorno a um ambiente escolar ruidoso é tão incômodo para eles que um número cada vez maior de pais estão preocupados, e trazem seus pequeninos para o centro,” acrescenta a mesma.

Grandes esforços para melhorar o conforto acústico no centro

O centro foi realocado há não muito tempo e onde está atualmente era uma escola. E, naturalmente, é um edifício onde a reverberação sonora ainda é longa, como é ainda o caso da vasta maioria das escolas. Contudo, a diretora do centro, Beata Mierzejewska, percebeu que as condições deveriam (e podiam) ser melhores – para os pacientes, os pais e os funcionários do centro.

“Como parte de nossa parceria atual com a Creche n. 340 (SP340) em Ursynów, eu conheci o presidente da associação de pais da escola, Robert Wojciechowski. Trabalhando em nível local com outros pais, ele iniciou uma reforma acústica total da escola. O resultado foi uma imensa diferença das condições de trabalho e aprendizado. Então, decidimos seguir os passos dos pais em SP340,” disse a diretora do centro. “Na assembleia distrital, eu tentei obter financiamento para uma reforma parecida em nosso centro, já que boas condições acústicas são fundamentais para obter diagnósticos precisos.”

Este exemplo demonstra que se alguém encontra ruído e eco nos ambientes interiores e descobre que o problema pode ser resolvido, esta pessoa se torna um defensor convicto de ambientes silenciosos.

Após o esforço de alguns meses, foram capaz de garantir financiamento para a reforma das três áreas mais importantes: a sala de exercícios, a sala usada para o desenvolvimento psicomotor das crianças de 0–3 anos, e o corredor do térreo, que leva para os escritórios.

“Nossa empresa apreciou seu envolvimento na reforma acústica de SP340, esta que virou exemplo para outros ambientes educacionais. Compreendemos que o conforto acústico é fundamental nas escolas e em todos locais usados para o desenvolvimento das crianças, inclusive das que possuem hipersensibilidade auditiva. Ficamos contentes, portanto, de cuidar do projeto de redução de ruídos no PPP19,” disse Monika Sadłowska, uma especialista acústica da Ecophon, que estave envolvida nos projetos de reforma para melhorar as condições acústicas em ambos edifícios.

Sala sem tratamento acústico

A sala de exercícios no PPP19 sem melhorias acústicas...

Sala com forro e painéis de parede acústicos

...e após a reforma acústica.

Brinquedos com ruído branco podem danificar o desenvolvimento de crianças pequenas

Áreas onde há crianças presentes precisam ser confortáveis, especialmente a acústica (ausência de eco). Como Ewa Rycombel disse: crescer em um ambiente que possui muitos estímulos (sejam visuais, auditivos ou sensíveis) pode levar a sérios danos no desenvolvimento de uma criança.

“O ouvido médio de uma pessoa tem dois músculos – o tensor do tímpano e  o estapédio (que é curiosamente, o menor músculo do corpo humano). Quando estes dois músculos estão funcionando corretamente, fazem que funcionem os mecanismos por onde o volume do som é reduzido, desta forma o som que chega ao cérebro é menor, e o cérebro pode funcionar corretamente,” diz Ewa Rycombel.

“Contudo, o processo não é tão simples assim, até um resfriado prolongado na cabeça de uma criança pode impedir o funcionamento destes dois músculos, evitando que haja uma proteção total contra o ruído. Isto pode contribuir para o surgimento de hibersensibilidade auditiva,” acrescenta ela.

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Se levarmos em conta as péssimas condições acústicas e reverberações nas escolas, a criança terá problemas de funcionar em condições que outras pessoas considerariam normais.

Ewa Rycombel, terapeuta de fala

A terapeuta de fala também alerta contra dar muitos estímulos auditivos para as crianças.

“Os pais não percebem que ao usar ruído branco (seja com brinquedos de ruído branco, um secador de cabelo ou até um aspirador) para acalmar crianças pequenas, afetam o desenvolvimento normal de sua audição. Se cairmos nessa armadilha, o resultado será uma hiperestimulação do sistema nervoso. Lembre-se que o cérebro de um recém-nascido já precisa lidar com muito estímulo e informação, que devem ser processados especialmente durante esta fase de seu desenvolvimento. Um bebê não pode nos informar que está recebendo muitos estímulos ou que o volume está muito alto, então o sistema nervoso se defende inibindo a percepção,” explica a especialista.

Estes e outros problemas, que surgem durante o desenvolvimento de uma criança, podem ser a causa que leva os pais a virem para o Centro. Os problemas podem ser os seguintes: deficiências na fala, a criança não conseguir ouvir e/ou falar adequadamente as palavras; comportamento impulsivo e agressivo; uma tendência a chorar, gritar ou se tornar retraído e apático. Uma hiperestimulação do cérebro infantil pode fazer com que percebam o mundo de forma mais ruidosa do que realmente é.

“E se levarmos em conta péssimas condições acústicas e reverberações nas escolas, a criança terá problemas de funcionar em condições que outras pessoas considerariam normais,” disse a terapeuta de fala.

Paz e silêncio curam e auxiliam um diagnóstico

É justamente por isso que é fundamental resolver o problema do ruído em ambientes educacionais. Oferecer condições acústicas excelentes em locais médicos e centros de aconselhamento também é importante, visto que não é possível realizar um diagnóstico preciso se estiver rodeado de ruídos.

“Antes da reforma do centro de aconselhamento em Ursynów, víamos salas com acabamentos feitos com materiais rígidos, que quase sempre refletiam o som – revestimentos de piso em vinil e nas paredes e forros revestimentos de gesso de cal e cimento,” explica Monika Sadłowska da Ecophon.

“A falta de mobília em alguns escritórios também não ajudou, visto que isso afeta a chance de reverberação,” acrescenta ela.

Foi tomada a decisão de colocar materiais acústicos na sala de exercícios, que não tinha nenhuma mobília. Aqui um forro acústico foi posto por toda área da sala, junto com painéis de parede, o que também reduziu os ecos sonoros gerados entre as paredes.

Antes da reforma, o tempo de reverberação era de três segundos.

“Este é um tempo de reverberação muito longo para uma sala tão pequena. A reforma acústica não demorou para ser finalizada, resultando em um tempo de reverberação de apenas 0.72 segundos. Foi medido também o índice de transmissão da fala, demonstrando um aumento de 0.39 para 0.74, que é considerado como uma melhora na inteligibilidade de fala (valores acima de 0.75 são definidos como ‘inteligibilidade excelente’),” explica o especialista. 

“Alcançamos bons resultados depois de avaliar a sala de desenvolvimento psicomotor para crianças pequenas. Aqui o tempo de reverberação caiu de 2.12 para 0.46 segundos,” acrescenta Sadłowska.

Gráfico do tempo de reverberação

Gráfico do tempo de reverberação na sala de exercícios antes e após a reforma acústica.

A última área a ter redução de ruído implementada foi o corredor do térreo. Os funcionários notaram que alhumas crianças que visitaram o centro não conseguiam andar no corredor sem cobrir os ouvidos. Isso também mudou após a reforma.

Corredor sem tratamento acústico

O corredor do PPP19 sem melhorias acústicas...

Corredor com forro e painéis de parede acústicos

...e com materiais acústicos no forro e nas paredes.

“Tanto os funcionários quanto pacientes perceberam a diferença e estão muito satisfeitos com as novas condições das áreas melhoradas acusticamente,” Beata Mierzejewska reconhece com um sorriso.

“Agora todos os funcionários querem ter suas consultas nas salas que receberam tratamento contra ruídos. É por isso que certamente tentarei conseguir financiamento para o tratamento acústico de mais salas,” disse a diretora do Centro.